quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Lis Pector


Ucraniana de nascença, de coração brasileira, nordestina, carioca e mulher diplomata. Considerava-se assim Clarice Lispector, uma das maiores escritoras da literatura dos últimos tempos. Com sua escrita arrojada afirmo que ela foi muito além dos conceitos da época e expressou com o sua autenticidade uma gama de enigmas travados pelo ser humano, refletindo estes, primeiramente, na sua alma.


No universo das letras, acreditava ser uma amadora e, no intuito de manter a sua liberdade de escrita, nascia e morria com cada texto. O seu “não” comprometimento intelectual permitia que vivesse intensamente períodos de extrema produção intercalados por hiatos fenomenais. Nesses, instalavam-se o caos e a solidão e uma vez vividos, elevavam sua alma e davam início a um novo, complexo e desbravador momento de inspiração.


Nem sempre seus enredos possuíam uma conotação trágica, muito embora seja necessário reconhecer que para mergulhar na aventura clariceana, é preciso um certo preparo psicológico e muitas vezes emocional. Também é natural que no primeiro momento seja despertado um estranhamento mas este, uma vez ultrapassado, faz o texto brotar de maneira apaixonante, indefinível, marcante e mágica.


Com seu perfil dinâmico, transitou pelos diversos estilos literários, com crônicas, contos, romances, literatura de viagem, infantil entre outros. Para os pequenos, ela dizia ter muita facilidade por ser muito maternal e viver o sonho ainda não alcançado das crianças. Já para os adultos, tudo entrava num estado crítico de conexão por este ser, triste e solitário, não viver a fantasia e o sonho.


No mundo interpretadamente adulto sempre soube bem expressar os mais secretos sentimentos, medos e anseios dos seus leitores, sendo caótica, intensa e muitas vezes irreal. Caminhava, naturalmente, entre os opostos, mostrando-se tímida e ousada, com sua personalidade intrigante e audaz. Usava a literatura como uma arma para se libertar de si mesma por muitas vezes não suportar a sua própria introspecção.


Falar de Clarice Lispector é sinônimo de procura, busca, de algo além do imaginado. É buscando no seu nome inspiração, que apresento minha primeira coluna e agradeço ao nécessaire a oportunidade de fazer parte da sua rede.


Em tempo – Em entrevista concedida pouco antes da sua morte em 1977, o repórter a questiona sobre a origem do nome Lispector. Ela, com todo seu jeito sisudo e sério, diz acreditar ser um nome de origem latina e que com o tempo a palavra foi perdendo sílabas e chegou a “essa coisa de lis no peito – flor de lis”. Pois é, para mim e para muitos, o perfeito desabrochar uma flor na alma de quem se depara com sua obra.